Vandalização "enriquece" discurso político em véspera de eleições em Angola
Há poucos anos, falar de manifestação significava guerra ou tentativa de subverter a ordem constitucional, sem mais sem menos. Momentos depois, significava arruaças e tentativa de descredibilizar o Executivo angolano.
Por: Lito Dias
Agora os manifestantes estão rigorosamente associados à vandalização de bens públicos. Aliás, a ‘manifestação-vandalização’ desta segunda-feira, 10, mostrou isso mesmo com a queima de um autocarro da área de hemodiálise e um comité do MPLA, no Benfica.
Tudo que fere a ordem e a tranquilidade públicas é e deve ser motivo de repulsa de toda gente.
Ninguém está disposto, por exemplo, a andar a pé só porque os autocarros todos foram queimados pelos manifestantes ou grevistas.
Sem incitá-las para tal, as forças de defesa e segurança bem a como a justiça, compenetradas com o espírito de missão, devem apenas fazer o seu papel. É isso que a Polícia Nacional fez há dois dias: deteve os cidadãos implicados na destruição do comité do partido no poder, e foram encaminhados ao Ministério Público para o devido tratamento.
Segundo o porta-voz da PN, em Luanda, Superintendente Nestor Goubel, a corporação está no encalço de outros indivíduos que deverão ser apresentados nas próximas horas.
O que Nestor Goubel garantiu na altura, é que, não se apurou se os indivíduos que foram detidos estão ligados ou não às associações de taxistas que estavam na frente da paralisação dos serviços.
ANATA 'lava' as mãos
A Associação Nova Aliança dos Taxistas de Angola (ANATA), que, no fundo, é promotora da greve dos azuis e brancos, distanciou-se de todos actos reprováveis registados esta segunda-feira.
O presidente da referida Associação Francisco Paciente, apontou o dedo às autoridades de forjar indivíduos para se fazer passar por associações, "quando elas sabem quem são os verdadeiros responsáveis e promotores".
Também acusava os órgãos de imprensa pública de estarem a contactar pequenos empresários do sector dos transportes privados, para se fazer passar por líderes das associações, a desconvocar a paralisação e deu no que deu porque os taxistas ficaram mais furiosos ainda".
MPLA e UNITA em Luanda trocam mimos
Fazendo fé às declarações do presidente do seu partido, proferidas no passado dia 06 de Janeiro, segundo as quais a UNITA apoia-se aos jovens que vandalizam os bens públicos, o Primeiro Secretário Provincial do MPLA em Luanda, Bento Bento, não hesitou em apontar o seu dedo indicador ao maior partido na oposição, pelo vandalismo e arruaças verificadas esta segunda-feira.
O político suspeita que a UNITA esteja por detrás do episódio, questionando o que uma greve de taxistas tem a ver com instalações partidárias.
Para ele, a forma como comité foi vandalizado só pode ser resultado de um plano "inteligentemente elaborado".
Por seu tudo, o Secretário Provincial da UNITA, Nelito Ekuikui, no seu comunicado, começou por condenar "veementemente" os actos de vandalismo que tiveram lugar na cidade de Luanda, apelando para o diálogo para apaziguar os espíritos, e os ânimos. Mais adiante, confessou que a UNITA nada tem a ver com os actos de vandalismo que tiveram lugar no comité do MPLA no Benfica, tendo lamentado "muito". "Ouvimos com tristeza as acusações do seu secretário provincial em Luanda; pelo que, fazemos as seguintes recomendações: resolvam os problemas do povo, dialoguem com o povo, não mintam o povo, se comuniquem com os sindicatos e resolvam as exigências dos cadernos reivindicativos" recomenda.
NO TOPO A LÍNGUA É MENOS AFIADA Enquanto ao nível provincial, o discurso é mais acirrado com a tendência de partidarizar o problema, ao nível do Bureau Político (BP) do MPLA e do Grupo Parlamentar da UNITA (GPU), os discursos foram mais brandos.
O GPU disse notar com acrescida preocupação "a insensibilidade" do Executivo em dialogar com representantes legítimos de distintas classes de trabalhadores e a incapacidade de implementação de medidas de políticas com impacto directo na vida do cidadão, das famílias e das empresas, "o que tem gerado o crescente movimento grevista atingindo os médicos, enfermeiros, professores universitários, oficiais de Justiça, trabalhadores da EPAL, ENDE e o mais recente dos taxistas, estes últimos cuja paralisação gerou na manhã desta segunda-feira, 10 de Janeiro, actos de violência nalgumas artérias da cidade de Luanda".
Os Parlamentares do Galo Negro, para além de condenarem actos de vandalismo, referem que numa altura em que o país se prepara para celebrar 20 anos do calar das armas e espera realizar as quintas eleições gerais, "é urgente que se resolvam pela via do diálogo construtivo e abrangente os problemas básicos que afligem os cidadãos e que condicionam a paz social e a paz política".
"O Grupo Parlamentar da UNITA insta as entidades que tutelam os sectores em greve a abrirem-se ao diálogo e a concertação, única via capaz de ajudar a resolver as preocupações das classes socioprofissionais", diz a nota.
Também o Secretariado do Bureau Político do MPLA repudia, de forma enérgica e veemente, os actos de vandalismo praticados esta segunda-feira, por alguns cidadãos contra as instalações do Comité do Distrito Urbano do MPLA no Benfica, em Luanda.
O Partido dos camaradas, em comunicado, consideram que houve um condenável aproveitamento populista duma reivindicação de parceiros do Estado, um assunto que até está a ser atendido pelas entidades competentes, e chama a atenção para o perigo que essa irresponsável e gratuita manipulação pode vir a provocar na vulnerabilidade de outras estruturas públicas e privadas, designadamente político-partidárias.
No sentido de preservar a paz, a estabilidade e a desaconselhar actos de desrespeito à autoridade, o Secretariado do Bureau Político apela e encoraja os órgãos policiais e os que intervêm no sistema de justiça a imprimirem a adequada celeridade e consequente punição exemplar, conforme legislação aplicável, de todos aqueles que beliscaram e venham a beliscar a garantia da protecção dos direitos individuais e colectivos, fazendo com que possam exercer a cidadania responsável em segurança.
O Secretariado do Bureau Político apela aos militantes, simpatizantes e amigos do MPLA a manterem-se calmos e serenos, abstendo-se de provocações e corporizando uma regra estatutária defendida pelo MPLA enquanto Partido que promove a paz e a estabilidade, deixando que as autoridades competentes assumam o devido protagonismo no tratamento de todos aqueles que estejam a agir contra os princípios constitucionalmente consagrados, nomeadamente por estarem a beliscar a ordem e a tranquilidade públicas.
O Secretariado do Bureau Político do Comité Central exorta o povo angolano, e a juventude em particular, a não embarcar em actos de vandalismos e a manterem-se vigilantes para que a paz arduamente conquistada não seja posta em risco, apelando os cidadãos menos avisados a continuarem a respeitar a Constituição, as normas de sã convivência, a denunciar e a demarcarem-se de actos de desacato que podem coloca-los em conflito com a Lei e prejudicar seriamente o seu futuro.