Exclusivo com Marcolino Moco: Antigo Primeiro-ministro de Angola aborda vida interna do MPLA
Numa entrevista concedida ao NA MIRA DO CRIME, Marcolino Moco ‘passeia’ um pouco pela política interna e faz uma avaliação dos próximos congressos do MPLA e da UNITA
Por: Wilmer Cahango
Como é que olha a posição do engenheiro António Venâncio, que manifestou o desejo de concorrer com João Lourenço na Presidência do Partido do MPLA?
"A minha posição é de louvar e de manifestação de coragem ao militante de base, quando os membros da direcção do partido, nenhum deles se acham em condições para apresentar a sua candidatura dentro das tradições tristes que o MPLA trás até hoje. Quando a própria UNITA que pretendem destruir, a FNLA, CASA-CE e o Bloco Democrático há muito tempo que há candidaturas. É uma pena. Haveria pelo menos da parte da grande estrutura do partido, o trabalho mais profundo de democratizar o MPLA, nem que fosse só a base de lançamento de moções de estratégias para sacudir o ambiente político nacional."
Hoje muita gente se questiona por que Marcolino Moco não se candidata a presidência do MPLA…
"Abandonei a militância activa no MPLA em 2009 e, quando fiz, achei que não era possível dar o meu contributo, e exprimir as minhas ideias livremente num partido em que qualquer sinal de divergência com a chefia implica problemas muito sérios. Isso, particularmente, depois que nós optamos pelo multipartidarismo e pela construção de um Estado democrático. Desde 1998, no Congresso que, pela forma cobarde, aquela ala que defendia essas ideias que defendo, na altura encabeçada pelo Lopo do Nascimento, secretário-geral, fomos afastado de forma cobarde. Hoje, quando o presidente do partido traz às suas ideias do palácio, o resto do partido tem que se limitar a bater palmas. Nessa condição não posso-me candidatar a presidente do MPLA".
Hoje pouco ou nada se fala da candidatura de António Venâncio à presidência do MPLA?
"É uma pouca e grande vergonha da imprensa pública que pouco ou nada tem para ajudar a democratizar o país, ao não divulgar as acções do Engenheiro António, que pretende concorrer à presidência do MPLA. O mais grave é que isso tem sido uma prática que tem afectado todos partidos políticos na oposição. Grosso modo, é lamentável que o sistema tenha escolhido essa ideia de destruir os partidos políticos para na prática continuarmos no sistema de partido único, e de partido estado, com prejuízos enormes para o desenvolvimento que passaria por uma verdadeira reconciliação nacional, por uma estabilização política, social e económica adequada".
E tudo acontece numa altura em João Lourenço já formalizou a sua recandidatura a presidência do partido...
"Como é natural, o presidente João Lourenço, no seu primeiro mandato, era aceitável que fosse o candidato único. O problema é que não estamos numa situação normal. O Presidente João Lourenço tem cometido imensos erros. alguns acompanhamos, como o de ostensivamente deixar que ele é que comanda o Tribunal Constitucional contra Adalberto, para subordinar um partido tão grande de como é a UNITA, isso é um erro, vai custar ao MPLA."
Por que é que faz essa avaliação?
"O Tribunal Constitucional é forçadamente a tomar determinadas decisões, e qualquer pessoa minimamente avisada vê que há ali uma manipulação aberta, ostensiva e, depois o próprio presidente que nunca mais convocou o Conselho da República enquanto Adalberto era o presidente da UNITA, na sequência daquele almoço".
Hoje já se fala em uma ligeira abertura no capítulo da liberdade de imprensa, mas por que o Doutor ainda crítica o desempenho da comunicação social pública?
"Sim, esta questão da informação e da liberdade de expressão é uma das áreas que o presidente João Lourenço nos abriu grandes esperanças. Prometeu reformas positivas no sentido de democratização do país, que estava bloqueado, aparentemente, no tempo de José Eduardo. Refiro-me a actividade do Parlamento, a questão da Reforma de Justiça, de modo a fazer dela um instrumento de combate isento à corrupção, da defesa dos direitos fundamentais dos cidadãos, essa é uma das três áreas que João Lourenço começou por ganhar muitos pontos, acredito que se mantivesse assim, não precisaria de fazer esses jogos de prejudicar a oposição, porque até a própria oposição séria o apoiava. Hoje por hoje, digamos é como se tivéssemos a ver uma cobra a roer o seu próprio rabo”.
O que espera das próximas eleições?
“A fraude eleitoral já começou a nível do país porque, quando competidores em relação a uma disputa têm armas diferentes, está um dos aspectos importantes de fraude. Ora, para o MPLA se prestigiar perante a população, não precisa sufocar a liberdade dos outros".
Que perspectiva faz dos congressos dos camaradas e dos maninhos, que por sinal estão agendados para Dezembro próximo?
“Em relação a UNITA, penso que teremos um congresso a revalidar a liderança de Adalberto Costa Júnior, porque se não acontecer, poderemos ter uma situação que eu chamaria a fenelização da UNITA, que seria muito triste e causaria uma situação muito mais complicada no desenvolvimento do nosso país. Seria um retrocesso, um modelo de partido único, embora com outras roupagens”.
Quanto aos camaradas?
“Quanto ao Congresso do MPLA, particularmente, se o Engenheiro António Venâncio não consegue as assinaturas exigidas, não vai aparecer, será um bate palmas estrondoso a favor de um homem que está a começar com inúmeros erros, e está a deitar por terras o prestigio que restava ao MPLA e, contra uma situação tão favorável que o teve desde 2017, até que voluntariamente decidiu por enveredar a um caminho inverso, que o coloca mal e consequentemente o próprio partido, já que a própria arquitectura da constituição actual, liga indelevelmente o destino do seu presidente ao destino do próprio partido. Essa é uma das coisas que eu já tinha alertado que não se fizesse em 2009, na altura em que eu acabei por renunciar a militância activa centro do MPLA."