Zango 4 - Suposto dono de mercado manda espancar mulheres até desmaiarem, administrador diz que assinou por engano licença de construção
Identificado apenas por Ngangula diz ser dono do mercado do Zango 4. É nesta condição que na manhã da última sexta-feira 4, reuniu 20 homens "caenches" para colocar vedação a dois hectares disputados com aproximadamente 151 famílias que residem no local há mais de 30 anos.
Por: Matias Miguel
Inconformados com a intenção, as referidas famílias fizeram-se ao local protestando contra o que consideram usurpação das suas terras.
A reacção dos homens de Ngangula foi vigorosa ao ponto de gerar violência que se saldou em desmaios de quatro senhoras.
O NA MIRA DO CRIME flagrou o momento em que homens fisicamente avantajados agrediam populares dentre mulheres, homens e até crianças.
De acordo com Faustina Francisco, coordenadora adjunta do bairro, as famílias habitam na área há mais de 30 anos, mas em 2012, Ngangula surgiu do nada, fazendo-se passar por dono de uma parte do espaço.
"Daí, criamos uma comissão e fomos discutindo até à data de hoje, para se chegar a um consenso que, entretanto, tarda a chegar", referiu.
O que não compreende é que em pleno clima de negociações aparece, apoderando-se da titularidade do espaço em litígio.
O suposto responsável do mercado do Zango 4 diz ter o direito de construção passado pelo actual administrador de Viana, Manuel Pimentel, que abordado pela nossa reportagem admite ter sido enganado ao assinar uma licença de construção de num espaço onde reside populares há mais de 30 anos.
Para os populares, a atitude do administrador "só demonstra incompetência.
"Nangula encontrou-nos aqui, mas por alegadamente ser amigo do ex-presidente da República ocupou parte do espaço, convertendo-o em marcado, mas por não estar saciado, agora quer todo terreno", acusam populares.
Lembram que em 2013, Ngangula abordou o coordenador da área no sentido de estabelecer-se um convénio, que passava em alargar o mercado, transferindo os moradores para casas condignas e escolas. Mas a expectativa ficou frustrada e as coisas pioraram com os moradores a acusarem a administração de Viana de estar a beneficiar-se do negócio do Chefe do mercado do Zango 4.
"São todos corruptos e, por isso, apostam no abuso do poder", acusou dona Paulina Adão.
"Nós somos o povo". Este jornal sabe que Ngangula retirou do espaço 60 famílias, atribuiu-lhes duzentos mil kwanzas cada e um espaço de 15/10, nas proximidades das lagoas do Kikuxi.
Faustina Francisco disse que Ngangula negociou com algumas pessoas, que são a minoria que, mesmo não vivendo no referido espaço, foram contemplados com tais valores monetários.
"Nós não concordamos com a proposta dele, por isso enviou os 'caenches' há três dias para nos intimidar, batendo em nós, com tanta ferocidade ao ponto de criar desmaios", denunciou, acrescentando que até fizeram tiros.
Para Angelina Lucamba, de 34 anos, Ngangula quer "nos aldrabar e nós não vamos cair na lábia dele, se ele quer o espaço onde residimos há mais de 30 anos, que nos indemnize".
O NA MIRA DO CRIME tentou contactar por via do telefone, o empresário Ngangula, mas este não atendeu nem respondeu as mensagens.
E quem defende os pobres?
"O empresário Ngangula, dono do mercado do zango 4, como é designado, precisou apenas 5 dias para escorraçar famílias do espaço reclamado pelas duas partes. Este jornal foi contactado para testemunhar a triste decisão que semeou desespero no seio daqueles que não têm como apagar os 30 anos vividos no Zango.
Eram visíveis os rostos carregados de tristeza e com os pertences ao relento.
Regina Muhongo, de 64 anos, disse que lutaram com os "capangas do Ngangula", a Polícia nem sequer apareceu.
"Hoje, terça-feira, 8, os miúdos quiseram chamar à atenção da sociedade, colocando fogo em pneus no meio da rua, e parece ter resultado porque só assim a Polícia apareceu", frisou, concluindo que a Polícia esta do lado do Ngangula; "é o dinheiro que esta a falar mais alto, é pecado ser pobre em Angola".