Governadores que são o mesmo ‘chover no molhado’
A recente nomeação de governadores provinciais pelo Presidente da República, neste segundo mandato, defraudou as expectativas, pois, esperava-se que da experiência adquirida no seu primeiro mandato, tivesse captado a importância da boa governação para cada região, nomeando para o efeito, dirigentes capazes, que arregaçam as mangas e não se furtam ao trabalho, empenhados e verdadeiramente apostados em fazer mais e melhor, sem utopias, pois do progresso de cada província depende o desenvolvimento a todos níveis do país
Por: Alves Pereira
Em Angola tornou-se costume dizer que “a vida faz-se nos municípios”; máxima esta que tem servido para demonstrar que o desenvolvimento geral do país tem (deve ter) o seu alicerce nas comunidades de uma munic ipalidade. Cada uma das 18 províncias angolanas são compostas por vários municípios e cada um deles tem a sua importância no conjunto de estratégias para a evolução das respectivas províncias.
Com províncias devidamente orientadas, focadas no progresso, proporcionando trabalho e bem-estar às suas populações, é o país, no seu todo, que ganha, enriquece e se desenvolve a todos níveis.
Para tal, precisam de ser conduzidas por gente (Homens ou Mulheres), acima de tudo patriotas, apostados no trabalho, paradesenvolver e que não percam tempo com falsas teorias e com discursos vãos para justificar injustificáveis que só visam deixar passar o tempo, enquanto, em vez de criar desenvolvimento local para catapultar a província, aproveitam-se do erário para enrquecerem ilicitamente.
O mérito, o profissionalismo, a transparência, o rigor e o espírito de serviço público são os parâmetros que devem guiar a nomeação dos governantes a nível central, provincial e local, segundo o próprio Presidente João Lourenço.
A este propósito, a sociedade não entende determinadas nomeações que foram feitas, bem como a manutenção de outros governadores que, no ciclo passado, já demonstraram incapacidade, entre acusações diversas de aproveitamento ilícito da coisa pública.
De acordo com especialistas no assunto, as actuais nomeações parecem ter sido feitas “mais com o coração” e “na base da emoção”, do que realmente com pragmatismo, em função da realidade e do que se pretende do Executivo, garantindo “a sua funcionalidade, sem dispersão de meios, evitando o esbanjamento e o desperdício de recursos, que são cada vez mais escassos”.
Para que “a reforma da administração pública esteja centrada na simplificação de procedimentos e na valorização do capital humano”, é necessário que os governantes que são nomeados para desempenhar cargos aos diversos níveis possuam carácter e idoneidade à altura de corresponder aos desafios preconizados pelo Chefe de Estado e pelas instituições de soberania.
Nas nomeações dos governadores, a trasladação do contestadíssimo Ernesto Muagala da Lunda Norte para a província do Moxico, em substituição do também contestado Gonçalves Muandumba, deixou uma “pulga atrás da orelha”, na óptica da opinião pública.
Considera-se que Muangala devia, pura e simplesmente, deixar a governação, pelo menos a nível de províncias.
A nomeação de Mara Quiosa que deixa o Bengo para ir para Cabinda, também está a ser motivo de muita polémica.
Embora com o benefício da dúvida, mas, para os analistas em geral, atendendo o alto grau de “sensibilidade” reinante naquela região por motivos sobejamente conhecidos, não seria Mara Quiosa a mais indicada para a província maiombina.
Entende-se que o anterior governador, Marcos Nhunga, que foi mandado para a província de Malanje, terá sido “lesado” pela derrota do MPLA nas urnas naquela circunscrição. Aliás, era-lhe já atribuído, no seio do partido, algum “abrandamento” político, considerado como consequência de não querer “pisar” um campo que tem dividido a sociedade local.
Daí que a direcção do MPLA lhe tenha apontado um “fraco calibre político” na actuação governamental, por não se coadunar com a função de líder partidário, tendo em conta que os governadores provinciais em Angola são ao mesmo tempo os primeiros secretários provinciais do MPLA, o que os obriga a uma maior acção político-partidária que, no caso de Marcos Nhunga, geralmente reconhecido como um tecnocrata, não foi do “gosto” dos camaradas, ou seja, do partido no poder.
Na mesma esteira, está Pedro Makita Júlia, que troca o “cadeirão” do governo provincial do Zaire pelo do Cuanza Norte, para insatisfacção dos cidadãos desta província.
Na sua capital, Ndalatando, a notícia foi recebida com muito desagrado, por se considerar que, sempre que um governador esteja a fazer bom trabalho, nunca o termina e é logo trocado.
Desta feita, a “má - fama” de Pedro Makita, pela sua (des) governação no Zaíre, antecedeu-o e causou desânimo nas populações das terras do Mbinda.
Em meio ao seu fraco desempenho político, permitindo que a oposição se sobrepusesse ao MPLA nas eleições gerais, de facto, Pedro Makita não era benquisto no Zaíre, cujas populações o acusavam de ser um governador que só “aquecia” o cadeirão principal do governo provincial.
Pedro Makita é considerado de ser um indíviduo que só queria manter-se no posto vendo pelo “binóculo” a solução dos muitos problemas que aquela província. A sua substituição foi bastante aplaudida pelos cidadãos.
A ida de Adriano Mendes de Carvalho para o Zaíre, deixando um enorme vazio no Cuanza Norte, terá a ver com o “resgate” da anterior posição que foi privilégio do MPLA nas terras de Nkulumbimbi. Embora a província gerida por Adriano esteja no mesmo marasmo.
Outra nomeação que não agradou sobremaneira os cidadãos é a de Manuel Homem para governar Luanda.
O antigo ministro, descrito de nada ter feito no Ministério das Telecomunicações, Tecnologias de Informação e Comunicação Social, já está a ser posto em dúvida quanto à sua capacidade para lidar com a governação de Luanda, considerada como a “mina de ouro” das elites do poder, sobretudo no que à limpeza, saneamento e recolha de lixo diz respeito.
Para a opinião pública, Manuel Homem “será apenas mais um” a passar pelo palácio da Mutamba “apenas para ver de camarote” Luanda a degradar-se cada vez mais, em vez de tomar a peito e resolver os principais problemas da capital, começando pelos mais básicos.
Quanto aos demais governadores, entre o que fizeram e o que farão, será apenas “mais do mesmo” porque em boa parte, salvo raríssimas excepções, como é o caso de Benguela, Huíla, Namibe e Cunene que vão mostrando algum desenvolvimento, lhes são conhecidos os vícios e a incapacidade de fazerem mais e melhor em prol do bem-estar das populações e do desenvolvimento da Nação.
Porém, a maior surpresa em todos estes nomes foi a recondução de Job Capinha para os destinos do Cuanza Sul.
Com um castelo quase a ruir, Job era tido como carta fora do baralho para o último quinquénio do Executivo de JLO.
Job Capinha, para os cidadãos da província que governa, é tido como um dos mais ‘fracassados’ gestores daquela parcela de Angola, que nem sequer conseguiu ‘varrer’ a poeira das ruas do Sumbe.