Em troca de 50 mil: Efectivos da Esquadra do Panguila acusados de soltar motoqueiro que atropelou mortalmente agente da Polícia
Um cidadão que em vida respondia pelo nome António Munengue, de 47 anos de idade, agente da Polícia Nacional, morador do bairro Waco, zona da Suapo, município de Cacuaco, perdeu a vida na passada quinta-feira, 7, momentos depois de ter sido atropelado por uma motorizada, nos arredores da padaria Bom Pão, arredores do Panguila, município do Dande, província do Bengo.
Por: Alfredo dos Santos Talamaku
Segundo relatos da esposa do malogrado, identificada como Maria, o acidente ocorreu quando o esposo saía de casa, com intenção de tirar dinheiro num ATM.
“Eu saí de casa para realizar às minhas vendas no mercado, lhe deixei em casa, quando voltei, de tarde, não o encontrei", contou.
Não sendo habitual, disse a viúva, decidiu ligar para o número do marido, e dava desligado.
No dia seguinte, esperou pelo esposo, e ficou ainda mais preocupada, porque o mesmo não regressava.
Na manhã de sábado, 9, deslocou-se até ao Comando Municipal de Cacuaco para fazer a participação. Posteriormente, dirigiu-se até ao Hospital Municipal, mas não havia registo do marido.
Sem resposta, decidiu procurar em esquadras da província do Bengo. “No dia 10, domingo, cheguei até a esquadra do sector 7, mostrei a foto do meu marido, disseram que não tinham nenhuma informação, mas deixei os meus dados e o número do telefone" disse.
No dia seguinte, segunda-feira, 11, a senhora, em companhia das suas sobrinhas, deslocaram-se ao Hospital do Bengo, partindo mais tarde para a morgue.
"Cheguei até a morgue e coloquei a informação, foi então que ficamos a saber que o meu marido havia sido atropelado, tendo sido socorrido até ao Hospital do Panguila, e mais tarde para o Bengo, onde perdeu a vida durante a trajectória”, recordou, acrescentando que ficou totalmente descontrolada.
Polícia encobriu o caso
Maria disse ter ficado surpresa, quando recebeu a informação de foram os agentes da polícia da Esquadra do Sector 7 que fizeram o acompanhamento do caso.
"Os meus irmãos foram para lá, receberam a informação que o autor estava detido, e estava disposto a assumir os gastos referentes ao óbito", disse.
Os familiares do malogrado, que era também agente da Polícia Nacional, contaram a este jornal que, afinal, o implicado já não se encontrava detido.
“Enquanto estávamos na esquadra ouvimos alguém a falar sobre o caso, por via telefónica, sem saber que éramos parentes da vítima, e alegava que o cidadão havia pago 50 mil kwanzas para estar em liberdade”, lamentaram.
“Ficamos transtornados, porque a polícia não pode abusar assim as pessoas, e ainda por cima familiares de um colega deles".
Procurando às razões para que os agentes envolvidos restituíssem a liberdade ao jovem sem ser responsabilizado, os familiares descobriram que a motorizada envolvida no acidente era de um outro agente da Polícia.
“Eles decidiram por si só que o jovem que atropelou tinha que pagar 100 mil kwanzas, como só tinha 50, e o dono da moto também é polícia, abandalharam o caso daquela maneira", deplorou a esposa.
Polícia atira responsabilidade ao Ministério Público
Contactado por este jornal, o Porta-voz do Comando Provincial da Policia Nacional no Bengo, Superintendente Paulo Miranda de Sousa, confirmou que o incidente que causou a morte do agente da Polícia foi causado por um motociclista.
"Quanto ao motoqueiro envolvido no acidente, foi detido pela Polícia e encaminhado ao Ministério Público junto do DIIP-Bengo; na verdade, o desfecho da situação não depende da polícia, mas sim do Ministério Público", informou.
“O implicado, depois de lhe ser aplicada a medida mais gravosa, sob o pagamento de uma caução, o Ministério público o restituiu à liberdade”, disse, deixando claro que, a acção judicial aplicada não implica que o mesmo está fora das suas responsabilidades no processo.
O malogrado deixa sete filhos, e foi a enterrar no passado sábado, 16, no Bengo.