Caso Lussaty: Jornal aponta líderes da UNITA e MPLA que beneficiaram do esquema bilionário
De acordo com um oficial superior das FAA, as medidas tomadas, puseram a nu as falcatruas nos transportes e na logística da Casa de Segurança do Presidente da República, em Menongue. Por isso, diz, as recentes manifestações na capital da província do Cuando Cubango, de supostos integrantes desse órgão presidencial que reclamam salários, em Menongue passaram de “pura comédia e facto criado para aproveitamento político dos maninhos”.
Aliás, avança, os resultados da investigação, em defesa do património do Estado trouxeram factos relevantes sobre o assunto.
O homem que conhece bem os contornos da trama afirmou que “a PGR não deve vacilar, deve actuar sem contemplações contra todos os implicados, visando complementar o trabalho feito pela nova chefia da Casa da Segurança do Presidente da República, nomeadamente, o cadastramento presencial do efectivo local”.
Elogiando o mérito, a fonte revela que o general Francisco Furtado, Chefe da Casa Militar da Presidência da República “tem razão ao bater-se contra os charlatães que a pretexto de falsos militares subtraiam avultadas somas de dinheiro dos cofres do Estado”.
“O trabalho feito desde a sua investidura em Junho de 2021, resultou na ‘caça’ do major Lussaty na posse do qual foram encontradas elevadas quantias de dólares e kwanzas, em malas guardadas em casa.
Cadastramento
O nosso contacto lembra que detectados os indícios de ‘fantasmas’ , no efectivo militar afecto aos transportes e logística, agora extinto, o general Furtado decidiu recadastrar todos os efectivos e foi aqui que a ‘porca torceu o rabo’, porque o cadastramento presencial descobriu numerosos elementos que fraudulentamente beneficiavam de salários.
“Apurou-se também que havia inclusive casos em que o pai a mãe e os filhos constavam da mesma folha de salários”, conta este oficial superior que pede para não ser identificado, mas observa ainda que “era um esquema de malfeitores que recrutavam elementos do ‘Galo Negro’, sobretudo, aqueles que diziam ‘já não quererem mais estar filiados na UNITA’ e por detrás deles havia oficiais das extintas FALA que os instigavam para engrossarem o número de dissidentes simulados.
Destes, alguns eram mesmo ex-militares das FALA mais os filhos, mulheres e outros eram civis e familiares acompanhantes ou simples partidários que em contrapartida, do dinheiro ilegalmente ganho, uma percentagem superior a 50% invertiam para os cofres da UNITA”.
Assim, “o esquema estava montado em Menongue, Cuanza Sul, Huíla e Huambo e no centro desta orquestração havia responsabilidades distribuídas: Menongue cuidava da efectividade e confirmação nas folhas salariais e Luanda fazia a sair o dinheiro do banco”.
Nesta trama, prosseguiu, havia dirigentes do governo do Cuando Cubango e oficiais do antigo elenco da Casa Militar que presume-se estarem igualmente envolvidos e o major Lussaty, era o suposto distribuidor do dinheiro roubado aos cofres do Estado.
Portanto, afirma, alguns destes que hoje reclamam salários, muitos deles nunca foram militares. “São civis recrutados exclusivamente com o propósito de saquear dinheiro público que repartiam com alguns responsáveis militares, funcionários bancários e outros envolvidos no esquema, alguns dos quais já detidos, julgados pelo tribunal local e condenados”.
‘Mão invisível’
O mesmo oficial indicou que as convulsões que na província do Cuando Cubango, envolveram mais de três mil elementos designados ‘antigos homens da Casa da Segurança do Presidente da República’ , em Menongue, exigindo “falsamente” o pagamento de salários em atraso, “têm mão invisível da UNITA, sobretudo, do general Kamalata Numa, na qualidade de responsável pelos desmobilizados, e também da engenharia do deputado Adriano Sapiñala, então secretário provincial deste partido na província”.
“Depois do cadastramento presencial eles ficaram sem norte”, aponta referindo-se a estes dois dirigentes da UNITA. Aliás, insiste, “as obras da própria UNITA que decorriam na cidade de Menongue de repente paralisaram, ocorrendo o mesmo com a obra denominada ‘palaciano’ de Adriano Sapiñala estagnada desde Junho de 2021, depois do fecho da ‘torneira’ que alimentava tudo isso”.
De acordo com ele, as duas companhias também com a mesma designação, ou seja, da extinta Casa Militar (agora Casa da Segurança do PR), então subordinadas ao general Eusébio de Brito Teixeira, “também caíram na mesma teia”.
Por isso mesmo sugere que a PGR reabra este processo para que os orquestradores desta fraude sejam responsabilizados, já que “o General Eusébio Teixeira de Brito deveria justificar a origem de avultados investimentos feitos em casas, resorts e noutras infra-estruturas em Menongue”.
No seu ver, o general em causa também devia explicar as razões porque algumas destas infraestruturas foram erguidas junto daquela unidade militar onde muito antes os trabalhadores que cuidavam dos seus porcos também aparecem a reivindicar salários como militares afectos à Casa da Segurança da Presidência da República.
“O Adelino Pessela, que se diz porta-voz do grupo reivindicador com a patente de major, é estranho a Casa da Segurança da Presidência. Ele é tido como principal bandido e mobilizador dos que acham-se no direito de reclamar e manifestar-se contra as medidas tomadas conjuntamente pela PGR e a Casa da Segurança do Presidente da República”, referiu o oficial superior ao nosso jornal.
Instado pela Voz da América sobre as reivindicações em Menongue, o próprio general Francisco Furtado, disse em seco que o caso é do tribunal e o cadastramento foi presencial, tendo sido realizado com clareza.
Francisco Tchombe, estudante de direito e activista Cívico disse na mesma ocasião que “em Menongue todos nós conhecemos bem”, sendo que “alguns dos nossos irmãos que agora estão a reclamar salários na Presidência nunca foram militares. Todos entraram ilegalmente. Uns pagaram e outros como Pessela e Chikuamanga dos grupos do Kota Vidigal, que vieram da UNITA como dissidentes que naquela altura diziam ter abandonado a UNITA, mas isso não lhes dá o direito de integrar directamente as fileiras da tropa da Presidência”.
Soube-se também que o suposto major Adelino Pessela apenas estava a cumprir a agenda de altos dirigentes da UNITA para terem acesso a avultadas quantias dos cofres do Estado.
Depois da sindicância efectuada à unidade militar em causa, apenas 255 elementos foram reintegrados nas FAA. Destes, 194 integram a fiscalização ambiental nos parques do Luenge-Luiana e de Mavinga.
Termina assim toda essa manobra iniciada com a criação da unidade militar e o recrutamento ilegal que vigorou entre 2011 e 2021.
“Nenhum Batalhão orgânico possui mais de 450 a 500 homens, mais os corruptos mentores da iniciativa de criação daquela denominada unidade em nome da Presidência, no Cuando Cubango, recrutaram e registaram três mil homens, mulheres e crianças muitos dos quais membros da mesma família (marido, mulher e filho), que beneficiavam apenas de 20 a 25% do valor real do salário que era cabimentado na folha fictícia de salários. O resto, à volta de 70% a 80% era repartido entre quotas para a UNITA, o comandante e o seu adjunto, o chefe do estado-maior, o logístico, o chefe de pessoal e quadros da unidade e gestores de bancos no Cuando Cubango”.
O menor valor era imediatamente transferido para as contas dos beneficiários a cada mês, ao passo que estes que agora manifestam descontentamento levantavam os valores remanescentes, usando cartões multicaixa nos ATM das agências bancárias na província, conforme nos foi dado a saber pela fonte.
Por: Jornal Pungo a Ndongo